29/11/2012

Felicidade


Era cedo quando ele saiu de casa. Lá fora, o sol ainda nem se levantara e, na verdade, não importava muito porque a chuva que caía não o deixaria brilhar com toda a sua força. Ele colocou um sapato desgastado, tendo certeza que suas meias, em poucos segundos, ficariam ensopadas com a água que entraria pelo furo na sola. Ele não se importava. Estava feliz com a vida.


A escuridão da noite começava a dar espaço para a luz do dia aparecer, uma luz cinzenta e modorrenta que não melhoraria o ânimo de ninguém. No ponto de ônibus, mais de trinta pessoas se espremiam debaixo da cobertura capenga que ainda resistia aos ataques dos vândalos de plantão. Todos reclamavam da vida, menos ele.

O ônibus veio cheio, como sempre. A chuva que caía deixava o trânsito mais lento, menos ônibus, então, passavam por lá e os que vinham, cuspiam gente. Ele se pendurou em um dos degraus de entrada e abriu um sorriso, feliz por estar ali.

Ônibus. Trem. Metrô. Ônibus. Foram quase duas horas de jornada até chegar uma casa feia, desbotada, pichada. Os muros mostravam partes sem reboco, com buracos nos blocos onde pequenos insetos faziam seus lares. Ele entrou ainda sorrindo e subiu os três degraus que separavam sua vida da vida de profissional. Ele estava pronto para vestir sua farda laranja brilhante, pegar sua espada de madeira roliça, seu cavalo de plástico e ir para a batalha diária.

Ele era Gari.
Ele sorria enquanto varria a rua, debaixo da chuva que não cessava. Seus amigos não entendiam o que acontecia com ele, chamavam a ele de louco por estar sempre sorrindo, a despeito do trabalho que muitos consideram degradante, da vida que muitos consideram insuficiente, vivendo em um barraco em um bairro periférico de uma grande cidade. Mas ele não se importava.

Quando ocupo o corpo com o trabalho digno, livro o espírito para viver sua verdadeira vida. O trabalho é uma ótima forma de liberdade, no final das contas.

Todos riam dele. Ele ria junto.
No fundo ninguém o entendia. Ele tinha feito uma escolha muito simples, que mudara seu destino. Ninguém sabia disso, não precisavam saber. A vida era dele.

Ele tinha passado dois anos sem trabalho algum, vivendo de pequenos biscates que fazia. Sua família sofria com a fome e o desespero toda vez que o aluguel vencia. Sua mulher, em casa, cuidava de seus filhos, mesmo preza a uma cadeira de rodas por conta de um acidente. Gari tinha sido sua redenção, um dinheirinho certo no final do mês. E ele aprendeu com a necessidade a olhar a vida de uma forma boa.

Não adianta brigar com ela. Se fizermos muito isso, acabamos por perde-la, deixando-a ir embora. Escolhi viver feliz. É só olhar as coisas pelo lado bom.

Como disse, ele deixava seu espírito livre. Enquanto muitos se prendiam às mazelas do trabalho, ele o usava para deixar sua mente sonhar. Varrer as ruas deixava sua mente livre para imaginar a vida que queria e, nessa vida, ele era extremamente feliz.

Mudar seu pensamento foi a base para o novo emprego. Em breve, ele irá para outra parte da cidade, fazer outra coisa. Pessoas gostam de pessoas felizes. E a felicidade está em nossas escolhas: escolhermos senti-la ou não.

Felicidade é uma questão de escolha!

Seu transporte demora? Use o tempo para algo útil. Leia um livro. Escreva um livro. Aprenda algo novo. Invente coisas. Use seu cérebro para o que ele foi feito.

Sua casa é pequena ? Aprenda a decorá-la de forma aconchegante. Tire o que não é útil.
Sua família o chateia? Às vezes é porque você a encara de forma errada. Às vezes quem chateia é você.

Novamente: felicidade é uma questão de escolha!
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Fernanda